segunda-feira, 26 de novembro de 2018

Seminário Nacional Quintas Urbanas - (24/11, 28, 29, 30/11/2018)


Na tarde de sábado (24/11/2018), ocorreu a abertura do Seminário Nacional Quintas Urbanas da UnB, no auditório da UAC/FCE – UnB - Ceilândia, com o tema geral "Democracia em tempos de lawfare: o papel do judiciário, da polícia e da mídia”.




Às 14h ocorreu o credenciamento e às 14h45min iniciou as falas dos conferencistas, os professores doutores da UnB, José Geraldo Sousa Junior e Erlando da Silva Rêses, seguidos pelos comentadores, o Dr. Márcio Gontijo, do Observatório Político e a professora doutora da FCE/UnB, Patrícia de Souza Rezende, com destaque à participação do Deputado Distrital, Chico Vigilante, do representante do Sinpro Luciano Matos de Souza, de vários representantes de movimentos populares e sindical, educadores e comunidade.
Mesa 1 - “Lawfare”: a lei como arma contra os movimentos sociais em resistência.


A professora Drª. Josenaide Engrácia dos Santos (FCE/UnB) dirigiu palavras de boas-vindas aos participantes do seminário e passou a palavras ao cerimonial, que, por sua vez, convidou a coordenadora do debate, os conferencistas e os comentadores para compor a mesa.


Madalena Torres, coordenadora da Mesa 1, explicou que cada conferencista tinha 30 minutos de fala e cada comentador 15 minutos e, ao final das falas, abriria para perguntas.

O primeiro a falar foi o Professor José Geraldo, começou pedindo atenção ao público para o uso do termo “Lawfare” que significa “o uso da lei como arma de guerra” e está relacionado ao uso das leis e do judiciário de um país, para alcançar objetivos militares e estratégicos ou políticos. O “lawfare” é algo negativo, oposto a verdadeira busca por justiça.

Lawfare, hoje, no Brasil legitima o abuso de direito da mídia e o abuso de poder do estado. Citou
duas expressões de como a lei pode ser interpretada para acomodar interesses políticos de determinados grupos, quais sejam:
“Os cidadãos não poderiam dormir tranquilos se soubessem como são feitas as salsichas e as leis.” (Otto Bismarck estadista alemão), lembrando mais uma expressão: “para os amigos tudo, para os inimigos a lei.” (Getúlio Vargas)
Prossegue dizendo que na Constituição de 1824, a mulher era vista como um ser reduzido e sem alma. Vivemos por muito tempo mergulhado na cultura do favor enquanto não se consolidava a função do direito.
Darcy Ribeiro disse: a instituição social que possibilitou a formação do povo brasileiro foi o “cunhadismo”, velho termo indígena usado para incorporar estranhos à comunidade.
Hoje, os coronéis são os capitães do exército e os donos do poder.  O Direito também pode ser visto como representação de privilégios.  A língua também poder ser um instrumento fascista porque nos obriga a falar determinadas termos de certo modo. Exemplo: ocupação = invasão
 E, ainda, o uso do fundamentalismo religioso e da teologia da prosperidade para ocultar um “assalto social” aos fiés.

O professor Erlando da Silva Rêses começou sua abordagem pelo ponto de vista internacional, ressaltando que existe uma ofensiva dos Estados Unidos da América, para desestabilizar e derrubar os governos progressistas no mundo, principalmente, na América. Exemplo disso, foram as ofensivas contra Honduras, Paraguai, Venezuela. E do ponto de vista nacional, mais recentemente, no Brasil, antes mesmo do golpe de 2016. Os governos capitalistas usam instrumentos das Legislações internas de cada país.
Outra ofensiva é a criminalização dos movimentos sociais, dos sindicatos e da perseguição às suas lideranças, até com aprovação do Poder legislativo da lei antiterrorismo que, praticamente, criminaliza manifestações. Agora, principalmente, com legislação específica para o “antiterrorismo”,outro dano e desrespeito aos professores e estudantes é a discussão da “escola sem partido”, também, o desprezo às ideias de Paulo Freire e a perseguição a lideranças, professores e universidades, Só para relembrar, durante as eleições, a polícia invadiu muitas universidades, a fim de recolher material que “julgavam” ser de campanha pró-Haddad. Nesse sentido, na esfera política, o “lawfare” é o uso da violência e do poder da lei para produzir resultados políticos.
Enfim, concluiu sua exposição com um fragmento na tela: “Ninguém larga a mão de ninguém”, no sentido da união, do retorno ao trabalho de base e proteção coletiva de todos que lutam por um país melhor.

O comentador Márcio Gontijo aproveitou o momento para fazer uma reflexão sobre as falas do Professor José Geraldo e de Erlando Reses e prosseguiu dizendo que:
Lawfare é a junção da palavra law com a palavra “warfare” (guerra). Foi criada, ao que parece, em 1975, por Carlson e Yeomans: a guerra dando lugar à disputa por leis. Foi disseminada pelo Coronel da Força Aérea, Charles Dunlap, em 2001, como uso da lei como alternativa aos meios militares tradicionais. Dunlap diz que, no “lawfare”, a lei é a mesma coisa da arma.
O uso mais frequente é utilizar as instituições jurídicas (lei e sistema de justiça) de forma abusiva para afastamento de um adversário político em substituição aos processos democráticos. É a perseguição (assédio) de um adversário político. Trata-se de abuso de direito e de abuso de poder.
Os movimentos populares são o que há de mais sagrado no campo social e político porque partem não do egoísmo extremo que caracteriza os praticantes do lawfare, mas da luta pelos direitos dos que mais precisam. O Papa Francisco declara que a política é face nobre da caridade exatamente por isso. Tendo em conta que os movimentos populares são os movimentos sociais que defendem os direitos da população e compostos por aqueles que não foram comprados, vencem o medo e procuram se informar, a melhor forma de resistir é a fidelidade a seus princípios, ou seja: não se venderem e se unirem cada vez mais (a “compra” pode aparecer de forma sub-reptícia, como a concessão de poderes e favores em troca de se separarem dos demais).


A professora Patrícia agradeceu o convite e falou da Experiência de cinema na FCE: Projeto de extensão – Em cena: Saúde e Sociedade. Com sessões de cine-debates, mensais, desde maio de 2018. A cada mês, o grupo escolhe uma temática, apresenta um filme e depois faz a discussão. Os temas discutidos até o momento foram trabalho, saúde mental, aborto, bioética. Em 23/11, tiveram a sessão de novembro e a tema foi a questão racial – com o 20 de novembro, momento em que participaram os alunos que fazem parte do coletivo NEGROSUS. Eles sugeriram o filme “Corra!”. Após o filme, tiveram mais de uma hora de debate. As reflexões, perguntas, colocações, experiências compartilhadas, foram múltiplas, intensas e enriquecedoras. Essa experiência confirmou a potencialidade do cinema, da experiência cinematográfica para a transformação social dos sujeitose foca nos seguintes pontos:
1. Aspecto simbólico;
b. Experiência subjetiva;
c. Formação de identidades;
2. No Aspecto econômico – já que movimenta uma indústria hoje em dia;
a. Como Potencial pedagógico, ajuda a pensar a realidade, refletir, educar os sentidos. Na experiência de alteridade, de ser conduzido por uma narrativa a outras temporalidades, outras histórias, outros territórios.
Cinema vira item de shoppings. Poucos cinemas de rua resistem.
a. Retrato de hoje - Dados do DF: 88 salas de cinema em 2017 – concentradas em 15 complexos. Onde estão essas salas? Em que isso influencia no acesso, diversidade de obras, formação de públicos para o cinema? Em que isso pode resultar para efetivar todo potencial transformados do cinema?
Após as falas, Madalena abriu para perguntas e quatro participantes fizeram uso da palavra. Erlando Reses e Zé Geraldo esclareceram as questões e partiram para a fase seguinte.

Na sequência, a professora Josenaide Engraça da FCE/UnB leu para o público uma “Moção de Apoio ao Programa Mais Médicos do Brasil”, elaborada pela coordenação do Seminário Nacional Quintas Urbanas, expondo a importância do “Programa Mais Médicos”, o zelo, a atenção e o profissionalismo dos médicos cubanos, para com os pacientes, informando o nº de municípios atendidos, como surgiu o programa e o porquê foi criado, além dos prejuízos à população mais pobre de vários municípios brasileiros que, agora, ficaram sem esses profissionais, ressaltando, inclusive, depoimentos positivos de usuários da saúde atendidos por esses médicos. Lida a moção, todos concordaram com o teordo documento e a aprovaçãofoi unânime.

Madalena agradeceu os participantes da mesa e passou a palavra ao professor Perci que pediu atenção a todos para os próximos dias de seminário. Informou que o Quintas Urbanas já tem mais de 14 anos e agradeceu aos conferencistas, aos comentadores da Mesa, ao grupo da FCE e todos do Movimento Social.
Encerrada essa 1ª parte, passou-se para o lançamento do livro "A linguagem do cinema na alfabetização de jovens e adultos trabalhadores", de autoria de Maria Madalena Tôrres e a roda de samba, com o grupo “Samba da Guariba”.
As equipe do Centro de Educação Paulo Freire de Ceilândia (Cepafre), do Movimento Popular por uma Ceilândia Melhor (Mopocem), do grupo Roda de Samba da Guariba e da Consulta Popular atuaram na organização e mobilização da comunidade para o seminário, em conjunto com a equipe da FCE/UnB – Ceilândia, representados pela professora Drª. Josenaide e do Técnico administrativo Edson Rodrigues da Silva. As falas sobre o tema em questão foram bastante esclarecedoras.
Ressalte-se que o Seminário Nacional Quintas Urbanas teve sua abertura no dia 24/11 e prosseguiu nos dias 28, 29 e 30/11/2018, sendo que,  Danielle Estrela, Maria Madalena Torres e Viridiano Custódio de Brito participaram, também, nos dias 29 e 30/11, no Campus  Darcy Ribeiro – UnB, representando o Cepafre e o Mopocem.




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