Na noite do dia 07/03/2016, primeiro encontro do Curso de Formação dos
Alfabetizadores, realizado pelo CEPAFRE em parceria com a Coordenação Regional
de Ensino de Ceilândia (CREC), contamos com a presença de 29 alfabetizadores
selecionados, 05 formadores da Equipe de Formação do Curso (Adriana de Freitas,
Adriana Silva, Danielle Estrela, Kelly Grigório e Maria Martins) e uma
representante da Regional de Ensino de Ceilândia Michelle Paiva que nos
ofereceu um delicioso lanche!
Adriana Alves, educadora popular e mestranda da UnB, iniciou
o encontro com a leitura de um trecho do livro "Quarto de Despejo" de
Carolina Maria de Jesus, catadora que marcou a década de 1960. Em seguida, foi
feita a apresentação da Equipe de Formação que iria conduzir aquele encontro e
foi proposto aos participantes que formassem duplas com pessoas que não
conheciam, ainda, para que um se apresentasse para o outro e, depois de dois
minutos de conversa informal, fizessem a apresentação do outro para todos os
participantes. Foi uma experiência riquíssima uma vez que todos se disseram
satisfeitos em conhecer pessoas novas e de saberem sobre a vida delas coisas
que nem imaginavam como, por exemplo, morar próximo, gostar das mesmas coisas, dentre
outros. Tivemos pessoas que até já se conheciam, mas se surpreenderam com novas
descobertas.
Depois, Adriana Alves informou aos presentes que apresentara
o texto da Carolina Maria de Jesus,
basicamente, por duas razões. A primeira era para marcar o dia 08 de março,
haja visto que é o dia internacional da mulher e esta data marca um processo
emblemático de luta que as mulheres, sobretudo na condição de trabalhadoras,
sempre enfrentaram/enfrentam. Outro motivo é que, por meio do seu contato com
um projeto de catadores de materiais recicláveis, teve contato com uma pesquisa
realizada pela SEDEST em que foi feito o levantamento de pessoas não
alfabetizadas em todo o DF e que foi enviado, pelo CEPAFRE, um ofício
solicitando tais dados para serem repassados aos Coordenadores do Programa DF Alfabetizado.
Ela se prontificou em passar os contados das Associações caso algum
alfabetizador se interessasse de procurar direto e montar sua turma de
alfabetização. Ela frisou que no estudo há 700 catadores que não são
alfabetizados e mais de 1700, em todo o DF, não tem o ensino fundamental
concluído e tem interesse em voltar a estudar.
Coadunando com a temática do dia, Kelly, presidente e formadora do CEPAFRE,
providenciou a exibição do filme "Dia de Maria" para fomentar o
debate que seria proposto. Após a exibição, ela separou os participantes em
três grupos e para debater e responder três questões: "Quem são os
analfabetos?", "Por que são analfabetos?" e "O que muda na
vida dessas pessoas ao serem alfabetizadas?". Os três grupos debateram as
três questões, contudo, no momento da exposição para a plenária, coordenada por
Danielle Estrela, formadora e tesoureira do CEPAFRE, cada grupo apresentou uma
questão e os demais complementaram quando necessário.
Sobre a primeira questão, foi dito que são pessoas que não
tiveram oportunidade de estudar no tempo certo; outro disse que se for feito
uma comparação com tempos anteriores, há uma questão cultural também implicada,
uma vez que muitas mulheres não tinham oportunidade de estudar porque, à época,
não era conveniente que elas estudassem, pois, normalmente, eram preparadas
para os afazeres domésticos e maternais. Hoje, contudo, existe uma situação
muito mais econômica e social, pois a maioria das pessoas são levadas a não
frequentar a escola para trabalhar e é difícil conciliar com os estudos. Uma
crítica levantada foi em relação ao termo "analfabetos", tendo em
vista que, este termo é estigmatizado na sociedade. Além de ser considerado,
lamentavelmente, muitas vezes, sinônimo de ignorante, bronco, preguiçoso dentre
outros adjetivos pejorativos, ninguém pode ser considerado analfabeto de tudo,
pois todo mundo sabe alguma coisa e desconhece outras.- "Ninguém ignora
tudo. Ninguém sabe tudo. Todos nós sabemos alguma coisa. Todos nós ignoramos
alguma coisa. Por isso aprendemos sempre"(Paulo Freire). Neste sentido,
foi proposto que não se usasse mais este termo para não causar desconforto
entre os envolvidos no processo de alfabetização. Talvez seja melhor adotar o
termo "pessoa não alfabetizada". Sobre a segunda questão, a maioria
concordou que a resposta da primeira já responde. Existe uma questão cultural,
econômica, social e política que influencia, direta ou indiretamente, na
condição de manter as pessoas afastadas da escola ou de espaços educativos
tendo que optar pelo trabalho em detrimento ao estudo. A falta de políticas
públicas e dificuldade financeira foram as principais razões apresentadas.
Entrando na terceira questão, todos concordaram que a palavra de ordem é
TRANSFORMAÇÃO. Há uma perspectiva de melhora na vida das pessoas em todos os
aspectos, pois aumenta, na maioria das vezes, a autoestima e autonomia em questões
do cotidiano (pegar ônibus sozinho, ler receitas, bulas de remédio etc),
mudança de hábitos, abre os olhos para situações de exploração (em casa com
parentes, no trabalho, na vizinhança) e, a depender da situação de cada um,
ajuda, consideravelmente, no desempenho profissional proporcionando até a
promoção no emprego, como foi um dos exemplos citados de pessoas que realizam
funções que necessitavam da leitura e da escrita e para se manter ou conquistar
um cargo melhor, teve que se alfabetizar. Claro que as consequências são
diversas e dependem de cada realidade em que a pessoa está inserida. Contudo, é
fato que quando se tem empenho e compromisso de ambos envolvidos (educando e
educador), os avanços são excepcionais.
Ao final do debate, Michelle Paiva informou que a Regional de
Ensino preparou o material impresso com os textos e a programação do Curso. Contudo,
seria distribuído no dia seguinte. Por esta razão e pelo avançado da hora,
Adriana Freitas, formadora e uma das coordenadoras convocada pelo edital do
Programa, informou que o tema "Pesquisa do Universo Vocabular" seria
debatido no segundo dia e que todos se esforçassem para comparecer,
pontualmente ás 19hs. Por fim, foi feito a escala do lanche coletivo entre os
presentes.
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